sexta-feira, 14 de março de 2008

A Filosofia como possibilidade de Cura

Na introdução do livro intitulado “Filósofos e Terapeutas em Torno da Questão da Cura”, o professor e organizador dessa obra, Daniel Omar Perez descreve de modo bastante sintético o que o livro pretende discorrer na continuidade de seus capítulos. Sabemos que a Filosofia é uma ciência muito antiga, desenvolvida entre os gregos a partir das narrações míticas; sendo que, podemos encontrar nesses 2.500 anos de História da Filosofia, uma busca incessante dos filósofos em constituir uma medicina própria do corpo e da alma. Capaz de identificar nossas limitações e encontrar meios para superá-las, ou mesmo, conviver com elas de forma harmônica, integrando todas as nossas potencialidades e complexidades.
De maneira ainda não aprofundada o autor faz uma elucidação sobre os filósofos que foram primeiramente terapeutas de si mesmos. Podemos dizer que estes pensadores não fizeram experimentos para comprovar a eficácia dos seus medicamentos, mas foram o próprio objeto de suas experiências. Isto é, aquela célebre frase escrita no pórtico do Templo de Delfos e proferida por Sócrates continua ainda hoje muito perturbadora: conhece-te a ti mesmo!
Os filósofos também atuaram como terapeutas, e na introdução do livro o autor nos fala que o intuito do livro é “dar notícia dos acontecimentos de uma história da qual se registraram os usos das mais variadas medicinas contra a depressão, contra a angústia, contra a impotência, para alcançar o prazer, a felicidade, o autocontrole, enfim, para evitar todas as formas da dor ou ajudar a suportar o sofrimento da finitude”.
Durante o processo de evolução do pensamento do homem e do contexto peculiar de cada época, os filósofos pensaram os problemas de modo bastante audacioso, pois, qual seria a pretensão de um filósofo se não em encontrar respostas e soluções para as inquietações suas e do mundo? Temos conhecimento de que o fim último da filosofia não é dar respostas prontas e acabadas, mas mesmo assim, podemos caracterizar cada filósofo como um ser em construção, que procura incessantemente uma sabedoria oculta aos olhos daqueles que não desejam vê-la.
Na História da Filosofia já tivemos uma pluralidade esplendida de personalidades, cada um sendo o “artesão de sua própria existência” e assumindo a sua própria faceta. “O filósofo já foi revolucionário como Jean-Paul Sartre e contemplativo como Santo Agostinho; conservador como Martin Heidegger e extemporâneo como Immanuel Kant; iconoclasta como Friedrich Nietzsche e profético como Karl Marx”.
A Filosofia como terapia é o encontro de si próprio, não existe uma receita que nos diga quais são os passos para a felicidade, essa busca é pessoal e intransferível. Cada ser humano deve percorrer o seu próprio caminho. A pedagogia da Filosofia consiste em propiciar as condições necessárias para que o ser humano possa ter um encontro consigo mesmo.
Todos esses pensadores que mencionamos acima, e aqueles que também não foram mencionados são testemunhas de que a Filosofia mudou totalmente o sentido de suas vidas. Cada um com seu “jeito próprio” tiveram a sensibilidade de não apenas sobreviver neste mundo, mas vivenciá-lo em sua plenitude, sem entrar aqui no mérito de julgar se isso foi bom ou ruim. O fato é que, se ainda estudamos homens que no passado pensaram sua existência, é porque um legado muito importante, não de informações, mas de pura sabedoria, eles nos deixaram. E por isso foram grandes terapeutas de sua própria alma.

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