sábado, 29 de março de 2008

Filosofia e o Cuidado de Si



A primeira parte tem como recurso o fantoche, expressando um indivíduo que está preocupado com o cuidado de si e que fala sobre os quatro grupos de expressões divididos na análise de Michael Focault sobre o princípio do cuidado de si. Esta parte acontece em um pequeno palco, que contém, ao fundo e acima, expressões do cuidado de si e os quatro grupos elencados. Temos, também, elementos ao fundo: o sol e a lua que representam a história em seu movimento.

A partir deste primeiro momento construímos um sentido próprio da apresentação. Objetivando mostrar a idéia do cuidado de si segundo a análise de Foucault em sua divisão nos grupos de expressões. Para assim demonstrar a idéia principal do texto em afirmar um enfraquecimento moral e epistemológico do sentido do cuidado de si, mostrado pela autora através de um conspecto histórico.

Todo o estudo abordado tem por referência o Livro "Filósofos e Terapeutas em Torno da Questão da Cura" que se encontra resenhada a sua introdução nos arquivos deste blog. O vídeo trata especificamente do primeiro capítulo "O Cuidado de Si Surgimento e Marginalização Filosófica" que foi escrito pela autora Salma Tannus Muchail.

sexta-feira, 14 de março de 2008

O nascimento da Filosofia "Do Mito à Razão"

O que levou o homem, a partir de determinado momento de sua história, indagar-se sobre o mundo e fazer filosofia? O nascimento da Filosofia pode ser compreendido como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Tudo era explicado a partir dos mitos, assim, a natureza era simplesmente considerada como algo divino. Partindo sempre do pressuposto de que “sempre existiu uma coisa” e por isso não se procura de modo racional conhecer a “real causa” de seus acontecimentos, pois é uma forma de conceber o Cosmos. Tudo isso foi uma visão de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração em geração por séculos e que transmitiam aos jovens a experiência dos mais velhos. Como narrativas, os mitos falavam de deuses e semideuses (heróis) de outros tempos e, desse modo, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas. Nesse contexto, os mitos eram um modo de pensamento essencial à vida da comunidade, ao universo pleno de riquezas e complexidades que constituía a sua experiência. Enquanto narrativa oral, o mito era uma maneira de compreender o mundo que foi sendo construído a cada nova narração. As crenças que eles transmitiam ajudavam a comunidade a criar uma base de compreensão da realidade e um solo firme de certezas. O homem se sente infeliz ao conceber um mundo desordenado, vivendo no caos, sem causas, sem explicação, independentemente de quais sejam elas ou sem algo que justifique os acontecimentos. Por isso, os mitos são enfocados a partir de uma religião politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas concentrada na tradição oral, sendo isso o que se entende por teogonia. Vale ainda ressaltar que essas narrativas foram sistematizadas no século IX por Homero e Hesíodo no século VII a.c. Ao aliar crenças, religião, trabalho, poesia, os mitos traduziam o modo que os gregos encontravam para expressar sua integração ao cosmo e à vida coletiva. Os gregos a partir do século V a.c viveram uma experiência social que modificou a cotidianidade da polis grega: a vivência do espaço público e da cidadania. A cidade constituía-se da união de seus membros para os quais tudo era comum. O sentimento que ligava os cidadãos entre si era a amizade, a filia, como resultado de uma vida compartilhada. A filosofia propriamente dita é fruto do espanto e da admiração. É a desbanalização do banalizado. Isto é, aquilo que “todo mundo” considera normal e cotidiano é posto em “xeque”. As verdades aceitas e tradicionais são questionadas. Tudo enfim, mesmo aquilo que julgamos mais vulgar é objeto de discussão. Por isso, a Filosofia é uma ciência que preocupa-se com a totalidade, ou seja, sua pretensão é não aceitar passivamente as imposições do mundo sem antes investigá-las e questioná-las. Mesmo a narrativa mítica tentava, ainda que de forma não-racional responder as questões fundamentais para o homem, tais como: a origem e o fim de todas as coisas, a condição do homem e as suas relações com a natureza, com o outro e com o mundo, enfim, o sentido de existir. E esses foram e continuam sendo problemas que a Filosofia desenvolve no decorrer de sua história. Por isso, é importante que cada indivíduo assuma uma atitude filosófica e se coloque a pensar e refletir sobre tudo o que norteia a sua existência, não apenas tendo em vista formular respostas ou explicações, mas pelo próprio prazer de indagar-se.

A Filosofia como possibilidade de Cura

Na introdução do livro intitulado “Filósofos e Terapeutas em Torno da Questão da Cura”, o professor e organizador dessa obra, Daniel Omar Perez descreve de modo bastante sintético o que o livro pretende discorrer na continuidade de seus capítulos. Sabemos que a Filosofia é uma ciência muito antiga, desenvolvida entre os gregos a partir das narrações míticas; sendo que, podemos encontrar nesses 2.500 anos de História da Filosofia, uma busca incessante dos filósofos em constituir uma medicina própria do corpo e da alma. Capaz de identificar nossas limitações e encontrar meios para superá-las, ou mesmo, conviver com elas de forma harmônica, integrando todas as nossas potencialidades e complexidades.
De maneira ainda não aprofundada o autor faz uma elucidação sobre os filósofos que foram primeiramente terapeutas de si mesmos. Podemos dizer que estes pensadores não fizeram experimentos para comprovar a eficácia dos seus medicamentos, mas foram o próprio objeto de suas experiências. Isto é, aquela célebre frase escrita no pórtico do Templo de Delfos e proferida por Sócrates continua ainda hoje muito perturbadora: conhece-te a ti mesmo!
Os filósofos também atuaram como terapeutas, e na introdução do livro o autor nos fala que o intuito do livro é “dar notícia dos acontecimentos de uma história da qual se registraram os usos das mais variadas medicinas contra a depressão, contra a angústia, contra a impotência, para alcançar o prazer, a felicidade, o autocontrole, enfim, para evitar todas as formas da dor ou ajudar a suportar o sofrimento da finitude”.
Durante o processo de evolução do pensamento do homem e do contexto peculiar de cada época, os filósofos pensaram os problemas de modo bastante audacioso, pois, qual seria a pretensão de um filósofo se não em encontrar respostas e soluções para as inquietações suas e do mundo? Temos conhecimento de que o fim último da filosofia não é dar respostas prontas e acabadas, mas mesmo assim, podemos caracterizar cada filósofo como um ser em construção, que procura incessantemente uma sabedoria oculta aos olhos daqueles que não desejam vê-la.
Na História da Filosofia já tivemos uma pluralidade esplendida de personalidades, cada um sendo o “artesão de sua própria existência” e assumindo a sua própria faceta. “O filósofo já foi revolucionário como Jean-Paul Sartre e contemplativo como Santo Agostinho; conservador como Martin Heidegger e extemporâneo como Immanuel Kant; iconoclasta como Friedrich Nietzsche e profético como Karl Marx”.
A Filosofia como terapia é o encontro de si próprio, não existe uma receita que nos diga quais são os passos para a felicidade, essa busca é pessoal e intransferível. Cada ser humano deve percorrer o seu próprio caminho. A pedagogia da Filosofia consiste em propiciar as condições necessárias para que o ser humano possa ter um encontro consigo mesmo.
Todos esses pensadores que mencionamos acima, e aqueles que também não foram mencionados são testemunhas de que a Filosofia mudou totalmente o sentido de suas vidas. Cada um com seu “jeito próprio” tiveram a sensibilidade de não apenas sobreviver neste mundo, mas vivenciá-lo em sua plenitude, sem entrar aqui no mérito de julgar se isso foi bom ou ruim. O fato é que, se ainda estudamos homens que no passado pensaram sua existência, é porque um legado muito importante, não de informações, mas de pura sabedoria, eles nos deixaram. E por isso foram grandes terapeutas de sua própria alma.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A cidadania como "Virtude de um Imperador e a Coragem de um Gladiador"

O filme O Gladiador, mostra a história de um general romano, Maximus, o mais destemido e íntimo do imperador Marco Aurélio que lhe tinha grande afeto. Aquele prepara o exército romano para impedir a invasão dos bárbaros. Marco Aurélio é considerado como um dos cinco melhores imperadores, seus ideais remontam ao principio de virtude e retidão dos gregos. No filme, a trama acontece quando Marco Aurélio, já ciente de sua morte, quer passar o comando do império para o general Maximus. No entanto, seu filho Cômodus que possuía um egocentrismo exacerbado, fica sabendo do desejo de seu pai que o revelara. Mas não aceitando tal decisão, revolta-se; e o modo que encontra para alcançar seus objetivos é matar seu próprio pai para ter direito a sucessão do trono. E é isso que ele faz. Durante seu governo, Cômodus, ordenou a seus fiéis subordinados para que matassem Maximus, sua esposa e seu filho. Contudo, ele conseguiu escapar da morte. Mas, torna-se escravo e gladiador, travando batalhas sangrentas no Coliseu, que era a nova forma de divertimento dos romanos. Determinado a vingar o assassinato de sua mulher, de seu filho e de Marco Aurélio, decide ganhar a simpatia e a admiração da platéia. Ele sabia que o controle da multidão afrontaria à Cômudus e isto era necessário para que ele pudesse executar sua vingança. Embora o imperador tenha descoberto toda a conspiração que o cercava, inclusive a traição de sua irmã, mesmo assim foi inevitável, porque, quando entrou na arena do Coliseu para acabar com todo aquele tropeço que representava Maximus para o seu governo, foi morto por ele no combate. Toda essa trama relacionada às Meditações de Marco Aurélio revelam o principio de uma vida bem vivida, pautada por valores morais para se alcançar a felicidade. Marco Aurélio foi influenciado e adepto da filosofia estóica e por isso conhecido como “O Imperador Filósofo”. Durante o período de seu império governou com equidade e temperança. Maximus foi um homem extraordinário, dotado de fidelidade à sua pátria e princípios éticos inquestionáveis. Em toda essa história podemos ressaltar alguns aspectos importantes sobre um governo político. É possível perceber que a política de “pão e circo” é muito antiga, mas perdura até hoje em nossa sociedade. Torna-se muito vantajoso para os governantes que o povo esteja ausente e não participe de forma consciente das decisões do Estado. O poder é símbolo de superioridade, como se fosse um deus todo-poderoso e imortal. No entanto, nos esquecemos dos verdadeiros valores que devem nortear a existência humana. Se estamos vivenciando em nossa atualidade seríssimos problemas na administração pública é devido não só a um desvio de conduta, mas a falta de uma educação voltada para o pensar do seu próprio agir. Nesse caso, não podemos relativizar os valores e simplesmente ignorá-los, é preciso com certeza discuti-los e colocá-los como foco inprescindível para o existir humano, pois, sabemos das nossas limitações e imperfeições, e por isso mesmo, os princípios éticos e morais se tornam indispensáveis para todo e qualquer indivíduo. A política está para o homem, a serviço do crescimento integral de suas potencialidades. "O homem é por natureza um animal político", assim disse Aristóteles, e se isso for uma proposicão verdadeira e necessária, então, é preciso repensar o nosso modo de agir na sociedade, exercendo nossas responsabilidades como cidadãos conscientes.

A supremacia da dignidade do ser humano e a banalização da vida

O filme no Original Children of man (2006) traduzido para o português como Filhos da Esperança, com direção e roteiro do cineasta Alfonso Cuarón é uma ótima oportunidade para questionarmos os nossos valores morais e éticos, o nosso sistema político, a nossa sociedade e, principalmente os fundamentos de toda nossa existência que são os princípios vitais. A história do filme se passa na Inglaterra, no de 2027. Já faz 18 anos que a humanidade tornou-se infértil. A incapacidade reprodutiva provoca um grande caos social, torna-se agudo o problema dos imigrantes, da fome e das doenças. Todo esse cenário piora quando a pessoa mais jovem do Planeta morre. Em meio a tudo isso aparece Theo, um ex-ativista que leva uma vida desiludida e inerte, que após reencontrar sua esposa vê o seu cotidiano mudar completamente. Julian é ativista e pede a Theo que providencie documentos para que possam transportar uma jovem imigrante para fora do país. É então que ele descobre que a tal imigrante é negra e está grávida e fará de tudo para impedir que seu filho seja utilizado para fins políticos. E no final, como a própria tradução do título do filme diz, há sempre esperança. Embora o filme seja uma ficção científica, não está muito além da nossa realidade. Ele é capaz de despertar em seus expectadores reflexões muito pertinentes sobre a “natureza humana”, se é que esta existe. O roteiro aborda questões essenciais nos dias de hoje, como o preconceito, a falta de comunicação, o totalitarismo, a fome, a banalização dos sentimentos e do respeito à dignidade humana, gente mais afeita a cães e gatos de estimação do que o contato humano de verdade. Isso tudo já acontece aqui e agora. O próprio desenrolar do filme é angustiante, pois, embora seja uma projeção do nosso futuro, os indícios da nossa falta de sensibilidade a nossa própria existência já são conseqüências daquilo que estamos vivenciando. É preciso ter esperança, mas só isso não basta. Por isso, uma mensagem crucial do filme é deixar de maneira ainda que implícita ou explícita, reflexões sobre os dilemas que assolam a humanidade. Não apenas com o intuito de respondê-las, mas tendo em vista a consciência de que cada indivíduo é parte fundamental para a solução desses problemas.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O amor, a paixão, o desejo e a ambição numa perspectiva do filme Tróia

O filme Tróia, do diretor Wolfgang Petersen e do roteirista David Benioff, descreve episódios contados nos dois poemas de Homero, a Ilíada e a Odisséia, reconstruindo o que teria sido a Guerra de Tróia. A Guerra de Tróia durou cerca de dez anos e tudo começou segundo a história porque Páris, filho de Príamo (rei de Tróia), teria se enamorado por Helena, considerada a “mais bela do mundo” e a raptada, que era a esposa do rei de Esparta, Menelau. Conseqüentemente a tudo isso, Menelau para defender sua honra, somado aos interesses de Agamenon (seu irmão e rei de Micenas), reúnem todas as forças gregas de diversos reinos para resgatar Helena e dominar a cidade de Tróia. O que estava de fato em jogo era a disputa pelas terras vizinhas do mar Negro, ricas em minérios e trigo, e o controle marítimo hegemônico dos gregos. Vale ainda ressaltar a figura de Aquiles, um semideus, porque teria sido fruto do “amor” de uma deusa (Tétis) com um humano (Peleu), e segundo a lenda foi mergulhado nas águas do Estígio, tornando-se invulnerável, exceto no calcanhar, por onde sua mãe o segurou. Ele foi o responsável pela morte do valente troiano Heitor (filho do rei Príamo), que matou seu primo Pátroclo pensando que fosse o próprio Aquiles. Páris, o irmão de Heitor, foi quem flechou seu calcanhar. Sendo assim, todo o contexto dessas duas obras, a tanto a Ilíada como a Odisséia mudam a direção e o foco da narrativa, isto é, se antes o homem era totalmente temente aos deuses, agora ele começa a utilizar-se de sua própria “razão”, entendida aqui não como a concebemos em nossa atualidade, mas como capacidade de imaginação e superação de seus limites. Os gregos não são livres, pois estão condicionados ao seu próprio destino. Mas tudo isso revela a busca do homem por si próprio e o despertar da filosofia, postulando causas para a sua existência. Não se trata apenas de uma guerra em nome do amor, mas um jogo de interesses humanos. Ao mesmo tempo em que experimentamos o amor, a paixão, também somos movidos pelo desejo e pela ambição. O homem é um ser que esta aí, impulsionado a partir da sua complexidade em busca de respostas significativas para sua origem e o seu fim.

terça-feira, 11 de março de 2008

O homem e sua relação de dependência com os deuses

O filme Odisséia com direção de Andrei konchalovky e formado por um elenco internacional de estrelas como Armand Assant, Greta Scacchi, Isabella Rosellini, Eric Roberts, Geraldine Chaplin, entre outros, retrata o retorno do guerreiro e rei de Ítaca, Odisseu (Ulisses, segundo a tradição latina), que enfrenta a fúria dos deuses, em especial de Posêidon (Deus dos mares), após tê-lo desafiado e menosprezado sua ajuda divina na Guerra de Tróia; atribuindo os méritos e glórias a ele próprio e a sua razão por ter criado o Cavalo de Tróia. O maior desejo de Odisseu era voltar para os braços de seus dois amores: Penélope (sua esposa) e Telêmaco (seu filho que deixara quando acabara de nascer). Este filme com cerca de três horas de duração é uma adaptação do poema clássico A Odisséia, atribuído a Homero. São muitas as interpretações que podem ser feitas a partir desse retrato da civilização grega, todavia, abordaremos alguns aspectos bem sugestivos para nossa reflexão. Tanto a Ilíade como a Odisséia compõem histórias fantásticas descritas por Homero da mitologia grega. Em geral nos colocam em contato com incríveis aventuras no plano imaginário e irreal, que revelam os mais profundos anseios do ser humano. O grande herói Odisseu leva consigo nossas qualidades e limitações. Se por um lado é orgulhoso, por outro é dissimulado, obstinado e teimoso, deseja a paz mas luta na guerra, se seu amor é completamente fiel à Penélope, ao mesmo tempo “a carne é fraca” por ceder as tentações da beleza e do prazer concedido pelas deusas que encontra em seu caminho no retorno para Ítaca. Enfim, este é o tempo em que o homem se encontra no centro de sua existência, diante do dilema de seus sentimentos e das mazelas humanas, sem a ajuda e o apoio de forças sobrenaturais, isto é, dos deuses, ele não é nada, apenas um “reles mortal”. Por isso, tanto a obra quanto o filme são bons momentos para pensar e conhecer um pouco dos nossos antepassados que influenciam até hoje nosso modo de conceber o mundo.

segunda-feira, 10 de março de 2008

A vontade e o desejo intrínseco de manipularmos nosso fururo a partir da narração do Mito de Édipo Rei

O mito de Édipo Rei consiste em uma peça de teatro grega, escrita por Sófocles por volta do ano 427 a.C., onde retrata a tragédia humana. Através do mito os gregos procuravam explicar e compreender ainda que de forma não-racional, a existência do Cosmos e do Homem. O mito para os gregos é imaginação, fantasia, tem por finalidade apenas a si mesmo. Não pretende ser um tipo de verdade indubitável, mas um modo de explicar e compreender os fundamentos do Cosmos. Por isso, o mito atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano, é como a arte em toda sua extensão criadora. Desse modo, o mito de Édipo Rei é também um valiosíssimo meio para adentrarmos no pensamento grego e entendermos um pouco mais dos valores e da cultura daquela época. De maneira bem resumida apresentaremos este mito para que o leitor possa situar-se em nossa reflexão. Segundo o mito, Laio era rei da cidade de Tebas e casado com Jocasta, foi advertido ao consultar o Oráculo de Delfos que não poderia gerar filhos, pois, o mesmo o mataria e muitas outras desgraças surgiriam. No entanto, Laio não acreditou muito na profecia do Oráculo e teve um filho; quando este nasceu, sentiu remorso e para que a maldição não se cumprisse, ordenou que Jocasta entregasse a criança a um pastor que deveria abandoná-lo num monte para que lá morresse. Contudo, a criança não morreu, porque aquele pastor entregou a outro pastor que, por sua vez, entregou a um casal que não possuía filhos. Quando adulto, Édipo também foi consultar o Oráculo de Delfos, como era o costume da época, e este disse a ele que, depois de matar seu pai, se casaria com sua mãe. Espantado e confuso com essa profecia, Édipo decidiu deixar Corinto e foi em direção a Tebas, que era a capital do reino. Durante a viagem ele deparou-se com um carro que carregava uma pessoa muito importante, pois, o mesmo era cercado por muitos criados. Demonstrando arrogância o homem do carro ordenou que Édipo saísse do caminho para a sua passagem. Quando um dos criados empurrou Édipo, este reagiu matando a todos que estavam ali, com exceção de um que fugiu. Sem saber que tinha matado o próprio pai, ele prosseguiu sua viagem. Para entrar na cidade Édipo deveria decifrar um enigma proposto pela Esfinge que protegia à mesma. Sendo este o enigma: Qual é o animal que pela manhã tem quatro pernas, ao meio dia tem duas e à tarde tem três? Após ter respondido que era o homem, destruiu a Esfinge e foi coroado rei e, recebe como esposa Jocasta, a viúva de Laio. Desconhecendo que se casara com sua própria mãe, teve com ela quatro filhos. Passado alguns anos, Tebas foi acometida por uma violente peste que matou a maioria de seus habitantes. Buscando saber o motivo de tal desgraça, Édipo consulta novamente o Oráculo que lhe diz: a peste não se findara enquanto o assassino de Laio não for encontrado. Ao longo das investigações para descobrir o criminoso, a verdade foi revelada. Inconformado com o destino, Édipo cegou-se e Jocasta suicida-se. Édipo deixou Tebas, partindo para um exílio na cidade de Colona. Toda essa narrativa é muito importante para situarmos nossa reflexão em alguns pontos essenciais. O mito neste caso não é apenas mais uma lenda ou um tipo de história que perpassou o tempo através da tradição oral, trata-se de um código de moral e valores fundamentais para a vida do homem. Abordando todo esse contexto numa visão filosófica podemos perceber que temas relevantes já são apontados naquela época, como por exemplo, a liberdade. O homem nasce livre ou se torna autor de sua própria vontade? Percebemos nitidamente que a concepção de “destino” é algo bastante penetrante nessa narração. Por quê? Esse aspecto na História da Filosofia vai ser abordado com o conceito de determinismo. A busca de Édipo consiste numa busca interminável pela verdade de si próprio e de sua história. Esse desejo de conhecer a verdade e dela apossar-se parece ser uma busca cada vez mais presente em nossas vidas. Tudo isso é muito bom, porque, somos capazes de pensar as nossas próprias indagações e questiona-las a partir de uma reflexão pessoal e não simplesmente por que outros disseram-nos que era assim ou não era. Por mais que tentamos fugir de nossos duelos pessoais, isso se torna algo quase impossível pois, preciso confrontarmos o tempo todo com nós mesmos.

domingo, 9 de março de 2008

A moralidade e a defesa pelos Direitos Humanos no Mito de Antígona

Podemos dizer que o mito de Antígona é decorrente do mito de Édipo, como se fosse uma continuação daquilo que não fora contado na narrativa anterior. A idéia inicial é a maldição de Édipo por ter desposado (sem ter consciência) Jocasta, sua mãe e ter matado seu pai Laio (rei de Tebas). Após ter descoberto toda a verdade ele acaba autopunindo-se, arrancando os próprios olhos, mas mesmo assim não consegue evitar que a maldição chegasse a seus quatro filhos: Ismena, Antígona, Etéocles e Polinice. O conflito é representado por dois lados, Antígona que representa a lei divina, e seu tio Creonte, rei de Tebas, que representa a lei dos homens. Antígona infringe o decreto de Creonte por considerar que há uma lei divina, universal, anterior ao poder de um soberano, e diz respeito a um mínimo de dignidade que merece o ser humano, independente de seus erros. Por isso, ela se porta no direito de sepultar e realizar o cerimonial de seu irmão, por mais que ele tenha lutado contra Tebas. Nesse caso, Creonte simboliza o poder estabelecido, e utilizando a interpretação que fazemos da obra de Maquiavel em O Príncipe, “os fins justificam os meios”. Creonte embora seja um déspota, impregnado de arrogância e autoritarismo, pautando sua vida pelo interesse e sendo incapaz de perceber seus próprios defeitos, sente-se no direito de punir Antígona independente das suas razões e crenças pessoais. Ao mesmo tempo em que os deuses condenam Antígona por ter assumido um ponto de vista divino, comportando-se como se fosse uma deusa, além de ter provocado duas mortes, eles também condenam Creonte pela sua falta de bom senso e prudência em tomar decisões precipitadas. Nesse sentido, podemos entender que ambos aprenderam à lição, mesmo que pelo caminho da frustração e da dor, que é preciso ser prudente e agir com temperança, procurando aquele ideal de virtude que consiste no justo meio, sem radicalismos e polaridades extremistas. Todo o contexto dessa obra retrata o início da democracia na vida cotidiana dos gregos e o fim das tiranias. O homem passa a contrapor os seus ideais aos ideais dos deuses, pensando o seu agir e as conseqüências dessa ação na sua vida prática.