segunda-feira, 10 de março de 2008

A vontade e o desejo intrínseco de manipularmos nosso fururo a partir da narração do Mito de Édipo Rei

O mito de Édipo Rei consiste em uma peça de teatro grega, escrita por Sófocles por volta do ano 427 a.C., onde retrata a tragédia humana. Através do mito os gregos procuravam explicar e compreender ainda que de forma não-racional, a existência do Cosmos e do Homem. O mito para os gregos é imaginação, fantasia, tem por finalidade apenas a si mesmo. Não pretende ser um tipo de verdade indubitável, mas um modo de explicar e compreender os fundamentos do Cosmos. Por isso, o mito atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano, é como a arte em toda sua extensão criadora. Desse modo, o mito de Édipo Rei é também um valiosíssimo meio para adentrarmos no pensamento grego e entendermos um pouco mais dos valores e da cultura daquela época. De maneira bem resumida apresentaremos este mito para que o leitor possa situar-se em nossa reflexão. Segundo o mito, Laio era rei da cidade de Tebas e casado com Jocasta, foi advertido ao consultar o Oráculo de Delfos que não poderia gerar filhos, pois, o mesmo o mataria e muitas outras desgraças surgiriam. No entanto, Laio não acreditou muito na profecia do Oráculo e teve um filho; quando este nasceu, sentiu remorso e para que a maldição não se cumprisse, ordenou que Jocasta entregasse a criança a um pastor que deveria abandoná-lo num monte para que lá morresse. Contudo, a criança não morreu, porque aquele pastor entregou a outro pastor que, por sua vez, entregou a um casal que não possuía filhos. Quando adulto, Édipo também foi consultar o Oráculo de Delfos, como era o costume da época, e este disse a ele que, depois de matar seu pai, se casaria com sua mãe. Espantado e confuso com essa profecia, Édipo decidiu deixar Corinto e foi em direção a Tebas, que era a capital do reino. Durante a viagem ele deparou-se com um carro que carregava uma pessoa muito importante, pois, o mesmo era cercado por muitos criados. Demonstrando arrogância o homem do carro ordenou que Édipo saísse do caminho para a sua passagem. Quando um dos criados empurrou Édipo, este reagiu matando a todos que estavam ali, com exceção de um que fugiu. Sem saber que tinha matado o próprio pai, ele prosseguiu sua viagem. Para entrar na cidade Édipo deveria decifrar um enigma proposto pela Esfinge que protegia à mesma. Sendo este o enigma: Qual é o animal que pela manhã tem quatro pernas, ao meio dia tem duas e à tarde tem três? Após ter respondido que era o homem, destruiu a Esfinge e foi coroado rei e, recebe como esposa Jocasta, a viúva de Laio. Desconhecendo que se casara com sua própria mãe, teve com ela quatro filhos. Passado alguns anos, Tebas foi acometida por uma violente peste que matou a maioria de seus habitantes. Buscando saber o motivo de tal desgraça, Édipo consulta novamente o Oráculo que lhe diz: a peste não se findara enquanto o assassino de Laio não for encontrado. Ao longo das investigações para descobrir o criminoso, a verdade foi revelada. Inconformado com o destino, Édipo cegou-se e Jocasta suicida-se. Édipo deixou Tebas, partindo para um exílio na cidade de Colona. Toda essa narrativa é muito importante para situarmos nossa reflexão em alguns pontos essenciais. O mito neste caso não é apenas mais uma lenda ou um tipo de história que perpassou o tempo através da tradição oral, trata-se de um código de moral e valores fundamentais para a vida do homem. Abordando todo esse contexto numa visão filosófica podemos perceber que temas relevantes já são apontados naquela época, como por exemplo, a liberdade. O homem nasce livre ou se torna autor de sua própria vontade? Percebemos nitidamente que a concepção de “destino” é algo bastante penetrante nessa narração. Por quê? Esse aspecto na História da Filosofia vai ser abordado com o conceito de determinismo. A busca de Édipo consiste numa busca interminável pela verdade de si próprio e de sua história. Esse desejo de conhecer a verdade e dela apossar-se parece ser uma busca cada vez mais presente em nossas vidas. Tudo isso é muito bom, porque, somos capazes de pensar as nossas próprias indagações e questiona-las a partir de uma reflexão pessoal e não simplesmente por que outros disseram-nos que era assim ou não era. Por mais que tentamos fugir de nossos duelos pessoais, isso se torna algo quase impossível pois, preciso confrontarmos o tempo todo com nós mesmos.

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