sexta-feira, 18 de abril de 2008

A Psicanálise como experiência Ética

CADERNO DE ATIVIDADES REFERENTE AO VÍDEO

MATERIAL COMPLEMENTAR


A Psicanálise como experiência ética. por Daniel Omar Perez


Segundo o texto escrito por Daniel Omar Perez (além da lei) a psicanálise é a experiência sobre a relação do sujeito com o desejo, na tentativa de satisfação frente à castração simbólica.
Entre o pai da psicanálise e Lacan existe um esforço explícito de colocar ou posicionar esta ciência no estatuto do saber científico.
Freud mostrou que a psicanálise era uma novidade que vinha a destronar o lugar do reinado do sujeito da consciência. O empreendimento psicanalítico buscava constituir – se como terapia e como reflexão da cultura.
Lacan não é omisso no debate, a insistência com a cientificidade da psicanálise aparece na forma de uma aproximação com a lógica e a matemática. A psicanálise não podia ser uma ciência da natureza, como não pode ser um modo da matemática. Entretanto entre Freud e Lacan há uma diferença que está além da escolha do modelo de cientificidade mal sucedida.
Por outro lado a busca de formas, fórmulas, formalização, grafos, matemas e interpretações filosóficas permitiram a Lacan organizar as condições de possibilidade daquilo que entendemos por desejo, estruturar o circuito pulsional e compreender a experiência analítica (experiência de tratamento) como experiência ética. Para Lacan o inconsciente não é – nunca foi – o âmbito das trevas, o irracional, a caixa preta ou qualquer coisa que se possa reduzir a uma experiência mística ou a uma relação de oposição neutralizada com a razão. O inconsciente está estruturado como uma linguagem, dirá Lacan.
A filosofia de Kant e Nietzsche marcou os limites da razão e reelaborou a noção de irracional. Nessa história, Freud não sugeriu uma espécie de nu selvagem da razão, mas o funcionamento de outro mecanismo, com outro regime de causas que aquele suportado pelo registro da consciência ou da natureza.
Porém Lacan, em vez de recorrer aos mitos, modela construindo esboços de aparelhos em relação com a linguagem e com aquilo que ela não alcança. Assim, o aparelho do psiquismo humano dispõe – se a partir dos registros do real, do simbólico e do imaginário. Registros estes que permitem trabalhar a relação do sujeito com o desejo como uma experiência ética. É assim que Lacan chama aquilo que está no próprio princípio da entrada na psicanálise.
Enfim, a máxima do sadismo lúdico não nos confronta com o desejo, é a partir do outro que a ordem nos solicita. Em última análise, o sádico é objeto.


O que entendemos por psicanálise em relação à experiência ética?


Qual é a interpretação da psicanálise como experiência ética?
A psicanálise tem que ser pensada a partir da regra, do exemplo para poder agir com os outros. A psicanálise como experiência ética e atitude ética. A ética tem mais a ver com desejos do que com relação com os outros. Lacan coloca a psicanálise ao registro do trabalho científico, uma verdade que tinha consciência, mas não se tratava com a filosofia da mente. A psicanálise não é uma filosofia da mente, mas uma terapia e uma reflexão da cultura. Não é uma terapia como qualquer outra, mas de algum modo, um tratamento terapêutico da neurose e o modo de compreender o produto da cultura.
Com isso, o psicanalista desenvolve diferentes modos, nos quais a psicanálise observa o tratamento clinico entendendo a cura nas suas diferentes perspectivas. E dentro da própria psicanálise, encontramos Freudiano, Lacaniano,..., com diferentes modos de entender a própria terapia e o próprio tratamento das neuroses.
Os críticos literários também tiveram um grande trabalho de análise sobre textos, no que procuraram na figura aquilo que vivia inconsciente entre a escrita e o autor. Com isso, Lacan é exigente no debate e na insistência quando quer aprofundar a psicanálise. Ele tentou levar adiante de um discurso de investigação e de justificação que se identifica com o caráter analítico, e isso não parou por aí, na década de cinqüenta, no qual, deu a mesma continuidade com o próprio Lacan.
Não há como colocar uma psicanálise no interior de uma epistemologia pautada pela a dicotomia mente/corpo, se não apenas como equívoco. Uma psicanálise se relaciona com a ética, como uma experiência da relação do sujeito com os próprios desejos em quanto às regras os separa de um lugar para outro.
O inconsciente nunca foi o âmbito das trevas, a caixa preta ou qualquer coisa que passa a reduzir a uma experiência mística com uma relação de oposição não comprometedora com a ciência. Nisso, a filosofia de Kant marcou o nível da razão e reelaborou a noção de irracional. O inconsciente está estruturado com a linguagem, no qual, dizia Lacan. Não se trata de um semblante, do silêncio, de um falar ou de qualquer coisa, trata-se de entender a lógica, que aparece na superfície significante, de ligação, percepção e contradição.
O aparelho típico humano se estrutura a partir do registro do real, do simbólico e do imaginário. Registro esses que permitem trabalhar a relação do sujeito como desejo e experiência ética. É assim que Lacan chama aquilo que está no próprio princípio da entrada na psicanálise por parte do analisando.
No entanto, Lacan formula a pergunta que atravessa o analisando no início da análise. Pergunta-se: devo eu cometer ou não ao imperativo do super-eu? Para deixar imóvel ter no inconsciente. Diz Lacan e que além do mais, prever cada vez mais na sua instância, na medida em que a descoberta analítica progride, e que o analisando vê defendendo a sua vida. A pergunta pelo devo ou não comprometer ao imperativo super-heróico. Não se restou de uma ética do viver, muito menos de uma ética da prudência ou da afinidade. Lacan costuma dizer o alcance e também o limite que aparece na ética de Aristóteles.
Em todos esses modos de determinação do agir, alcançamos um bem em todos os sentidos possíveis. Quando a gente age com prudência, alcançamos à felicidade; quando o sujeito age em função da lei, alcança a virtude; e quando o sujeito age em função da norma, alcança o bem-comum. Mas, Lacan chama atenção para algo anterior, e implantar a palavra “categoria”, que significa a “coisa”. A “COISA” é anterior em qualquer coisa, o bem da realidade do sujeito em memória própria. Lacan diz que algo se organiza em torno de uma coisa vazia (um vazio).
O sujeito tem a sensação de que alguma coisa se perdeu. O objeto que não sabe que se perdeu na psicanálise se chama coisa, que muitas vezes é representado como fenômeno. A separação do filho e da mãe primordial produz o trauma. Trata-se de um rompimento afetivo de maternidade. É uma busca constante do objeto que foi perdido. Esse objeto perdido é aquilo que orienta o encaminhamento do “sujeito” que o faz para tratar de reencontrar o seu objeto. O trajeto dessa luta estar orientado pelo princípio fraterno de realidade, do real.
O princípio de prazer guia o homem do significante para o insignificante, mas a coisa do objeto perdido não é insignificante, preferir a morte é um pulo para a filosofia. Nesse sentido, a questão ética segundo Lacan, articula-se por meio de uma orientação do referenciamento do homem em relação ao real, assim estar uma pergunta fundamental: existir em conformidade com seu próprio desejo? Na medida em que o desejo está para o além da lei, o risco de encontrar com o nada é inevitável; eis aqui a questão da cura do analisando que entra na relação com o desejo.
A ética do desejo é uma ética sem exemplo, é a abertura para aquilo que não se fecha. Certamente o para além da lei, demanda uma gnosiologia e experiência ética. O vazio da coisa é preenchido temporalmente por coisas que a principio é constituído por objetos que sustenta de uma representação simbólica por uma imagem sublime. Pode-se dizer que se trata de uma fantasia arcaica, como aparecem nos desenhos animados do Patolino e Tom e Gerry, no qual, vai atrás de um objeto de desejo para depois arrebentar, só que, na cena seguinte o objeto volta na sua forma original, ficando novamente novo. O que encontramos aqui, na fantasia arcaica, é de algum modo encontrado na arte, na ciência e na religião.
É a partir do outro que a ordem nos solicita. Em última análise, os sádicos é objeto no sujeito, assim que o dever seria um recalque pela obediência da lei. O gosto do sádico não seria propriamente um para além da lei, uma transgressão da lei super-heróica. Mas uma afirmação da lei de que é possível alcançar esse gosto último que a outra lei proíbe pra tentar regular e determinar a relação entre o sujeito. O sádico se trata da desmedida da lei, da renegação da calculação simbólica por meio do mecanismo da sublimação.



CONTEXTUALIZAÇÃO:


Sigmund Freud (Příbor 1856-1939) foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da Psicanálise. Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise. Freud, além de ter sido um grande cientista e escritor (Prémio Goethe, 1930), possui o título, assim como Darwin e Copérnico, de ter realizado uma revolução no âmbito humano: a idéia de que somos movidos pelo inconsciente.
Freud, suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas idéias são freqüentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.

Jacques-Marie Émile Lacan (1901 - 1981) foi um psicanalista francês, formado em Medicina, passou da neurologia à Psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian de Clérambault. Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e, a partir de 1951, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado do sentido da obra freudiana, propõe um retorno a Freud. Para isso, utiliza-se da lingüística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo. Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário).


GLOSSÁRIO:


Cientificidade: caráter do que é cientifico (a essência da conta na matemática). Caráter científico de alguma cosa.
Castração: é aquele que impede de ser eficaz, ou aquele que limita ou anula a iniciativa de alguém.
Consciência: A consciência é uma qualidade da mente considerando abranger qualificações tais como subjetividade. No sentido psicológico, consciência tem duas acepções. Significa conhecimento de si: "tenho consciência de quem sou". Presença a si mesmo.
Desejo: O desejo é uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. É uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a representação do fim esperado, o qual é o conteúdo mental relativo à mesma.
Destronar: renúncia voluntária, perda de liderança, prestígio.
Lógica: lógica Kantiana que se funda na análise crítica dos princípios puros do entendimento. Aquela que estuda as formas e leis do pensamento, com vistas a determinar quais destas conduzem a verdade e as quais ao erro.
Lúdico: relativo á tendência ou manifestação (artística ou erótica) que surge na infância e na adolescência sob a forma de jogo.
Neurose: O termo neurose foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1769 para indicar "desordens de sentidos e movimento" causadas por "efeitos gerais do sistema nervoso". Na psicologia moderna, é sinônimo de psiconeurose e se refere a qualquer desordem mental.
Matemas: Conhecimento da ciência. Uma ciência que estuda as grandezas mensuráveis do mundo físico, bem como sociais e econômicos e que leva em conta a noção de movimento.
Mística: Conteúdo de uma idéia, causa, instituição etc..., ou a atmosfera ou aura da perfeição, verdade, excelência incontestável . Tendência para a vida religiosa e contemplativa.
Mecanismo: conjuntos de sentimentos, representações e tendências comportamentais quando o individuo percebe uma ameaça psíquica, e que o protegem da angústia, de uma tomada de consciência dos conflitos e perigos internos e externos.
Psicanálise: Psicanálise, Teoria da alma (“psique”), segundo definição dada por Freud (1948), neurologista austríaco, e seu fundador, é uma disciplina científica que consiste num método de pesquisa cujo objeto é tornar clara a significação inconsciente das palavras, ações e imagens mentais.
Simbólico: Campo de reencontro, estruturação e tomada de sentido dos fenômenos como uma linguagem; um dos três registros essenciais (juntamente com o real e o imaginário) do campo da psicanálise segundo J. Lacan.
Sadismo: Satisfação, prazer com dor alheia. Caracterizada pela obtenção de prazer sexual com a humilhação ou sofrimento físico.


ATIVIDADES PROPOSTAS:


1-Referente ao texto estudado sobre a psicanálise, crie uma história em quadrinhos apresentando um conceito de fantasia arcaica.


2-Em grupo de três componentes, discuta os principais pontos relevantes do vídeo apresentado sobre a psicanálise.


3-Faça um comentário do vídeo “A Psicanálise como experiência Ética” contendo quinze linhas.


4-Trazer para a próxima aula um conceito do que a sociedade entende por ética para ser apresentado e discutido em sala.


5-Relacionar os dois textos com o vídeo e estabelecer um quadro comparativo através de um cartaz.


6-Reunir-se em grupo e criar uma atividade de palavras-cruzadas, onde os grupos trocarão com os outros esta atividade para que cada grupo resolva uma proposta diferente.


INDICAÇÃO DE FILMES:

- Desenhos animados do Tom e Gerry, Patolino, Papa-léguas.


- O Homem­-Aranha
Título Original: Spider-ManGênero: Aventura Tempo de Duração: 128 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 2002


- Matrix
Título Original: The MatrixGênero: Ficção CientíficaTempo de Duração: 136 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 1999


- Inteligência Artificial
Título Original: Artificial Inteligence: A.I. Gênero: Ficção CientíficaTempo de Duração: 146 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 2001


- A Laranja Mecânica
Título Original: A Clockwork OrangeGênero: Ficção CientíficaTempo de Duração: 138 minutos. Ano de Lançamento (Inglaterra): 1971


- O Amigo Oculto
Título Original: Hide and Seek Gênero: SuspenseTempo de Duração: 105 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 2005



LIVROS:


ARRIVÉ, Michel. Lingüística e: Freud, Saussure, Hjelmselv, Lacan e outros. São Paulo. Ed. da Universidade de São Paulo, 1994.
BEIVIDAS, Waldir. A psicose e o discurso da ciência. In: Sobre a psicose (JOEL BIRMAN, Org.), Rio deJaneiro,. Contracapa Ed., 1999.
BIRMAN, Joel. Entre cuidado e saber de si. Sobre Foucault e a psicanálise. 2 ed.. RJ. Relume Dumará ed., 2000. ed.., Nova Fronteira ed.., 1986.
COELHO DOS SANTOS, Tânia. A difusão da psicanálise na família: um estudo de seus efeitos sobrea mulher. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, 1982. PUC, 149 pp, Memeo.
COELHO DOS SANTOS, Tânia. As estruturas freudianas da psicose e sua reinvenção lacaniana. In: Sobre a psicose. Rio de Janeiro, Contra capa ed., 1999.
DESANTI, J.T. Galileu e a nova concepção de natureza. In: História da Filosofia, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1995.
DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. RJ, Rocco ed., 1993.
FERRATER MORA, José. Dicionário de filosofia. Lisboa. Publicações D. Quixote ed.., 1991.
FREUD, Sigmund . Três ensaios sobre a sexualidade. In Obras completas. Vol. VII, Rio de Janeiro, Imago ed,., 1980.
GUENANCIA, P. Descartes. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed., 1991.
JACOBSEN, Mikkel Borch. Lacan: el amo absoluto. Buenos Aires, Amorrotu ed.., 1991.
JAPIASSU, H e MARCONDES, D. – (1990) Dicionário básico de filosofia. RJ, Jorge Zahar ed., 1991.
JURANVILLE, Alain Lacan e a filosofia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed., 1987.
KAUFMANN, Pierre. Dicionário enciclopédico de psicanálise. RJ, Jorge Zahar ed., 1996.
KOYRÉ, Alexandre. Considerações sobre Descartes . Lisboa, Presença ed.., 1992. Universitária ed., 1991.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 2: o eu na teoria e na técnica da psicanálise. Rio de Janeiro, 3a ed. Jorge Zahar ed., 1992. Zahar ed., 1992.
LEMOS, Cláudia T.C. Da morte de Saussure, o que se comemora? In: Psicanálise e Universidade. SP, Revista da Núcleo de Estudos da Pesquisa da PUC, no 3, 1995, pp. 41-52.
STEIN, E. J. ética filosófica e ética da psicanálise - a diferença fundamental. 1998. conferência.



SITES RELACIONADOS DE PESQUISA:


Sociedade Brasileira de Psicanálise
Psicanálise Freudiana
Psicanálise On-Line
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A psicanálise


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