quarta-feira, 30 de abril de 2008

Freud Explica?

Inicialmente partimos de uma frase frequentemente utilizada pelo senso comum: “Freud explica!”. Mas ao analisarmos um filme problemático e provocativo como “Porteiro da Noite” é preciso nos perguntarmos: quais são as possibilidades e, em que condições podemos nos utilizar tanto da Filosofia quanto da Psicanálise para postular um entendimento compreensível para a trama retratada no mesmo?

Este filme produzido em 1974 pela diretora Liliana Cavani, pode ser visto como um exercício de perversão e exploração do Holocausto. Por outro lado, essa abordagem psicológica sugere uma visão sombria de personagens condenados pela Segunda Guerra Mundial. Um dos aspectos que podemos ressaltar é a imagem de uma sobrevivente de campo de concentração como objeto de desejo de um ex-general nazista.

Todo o enredo do filme se passa em Viena no ano 1957, onde uma organização secreta de ex-nazistas se encontravam periodicamente a fim de eliminarem aquelas testemunhas consideradas perigosas, pois, poderiam “abrir a boca” e narrar todos os acontecimentos por elas vividas. Como no próprio filme é dito: “uma testemunha viva, é mais perigoso do que milhares de mortos”. É nesse contexto que surge o retrato de Maximilian, um ex-oficial da SS, que trabalha como porteiro noturno em um hotel elegante.

Imagens do passado pontuam a narrativa presente com freqüência e sugerem que Lucia sobreviveu por ter sido um “brinquedo” nas mãos de Max. Em meio à tensão da crescente ansiedade deles para ficarem sozinhos, Max elimina um ex-prisioneiro que ficara seu amigo. Ele e Lucia estão finalmente reunidos numa cena de paixão violenta e doentia. Em vez de eliminá-la, como lhe ordenam, ele a tranca em seu apartamento e revive o passado com a mesma intensidade que vivera quando a torturava.

O amor obsessivo de Max e Lucia recriam uma situação em que ambos são vítimas. Eles vivem em uma paranóia completa porque são perseguidos, e por isso, não saem mais, a fome e a falta de ar faz com que voltem a um nível quase animal. A confissão de Max de que “ele trabalha à noite porque durante o dia, na luz, ele tem vergonha”, mostra o seu dilema interior.


Enfim, o filme retrata não só a continuação política entre o nazismo do período da guerra e a Áustria de 1957 como também a continuidade psicológica de personagens presos a uma compulsiva repetição do passado. Nem mesmo se quiséssemos explicar todos os aspectos que perpassam essa historia através dos conceitos propostos por Freud, como o id, o ego e superego poderíamos dar conta de explicitar todos os comportamentos mostrados no filme. O ser humano, mesmo com todos esses estudos ao seu alcance, ainda é uma incógnita tanto para a Filosofia quanto para a Psicanálise.

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